sexta-feira, 12 de março de 2010

EXCESSO



Há amores estranhos fundos sem razão
- são secretos vivem na cumplicidade
indizíveis nas palavras que aqui vão
são impróprios de viver em liberdade
levaram a ternura ao exagero
e a um excesso saboroso a nossa pele
só compreende quem sente o latejar
bem mais dentro que os olhos do olhar,
há amores que não posso aqui explicar
pois quer queiram quer não inda vivemos
na pré-História de um Futuro de cem mil anos
nas grutas de um sentir que não sabemos

há uma palavra escandalosa e proibida
quando se fecha a porta e começa a fantasia
e me sento no sofá e desligo-me da vida
e fico Senhor completo do teu corpo
e o código começou e tu me ofereces
o máximo que alguém nos pode dar
e a guerra não tem hoje nem tabus
são duas vontades grandes que ali estão
e mais que as mãos e a boca e o Futuro
e o vício de dois corpos seminus
amarro em ti a vida que me escapa
e acordas-me explicando o mundo todo
e cedo a esta raiva que me mata

e sinto em ti Mulher, Mulher de mais
e houvesse aqui, agora, já, um altar
e eu casava-me contigo poro a poro,
casava-me contigo em todos os rituais
se é que não estou exactamente assim casando
o ontem com o presente e o infinito
e a cada jogo beijo salto ou grito
pressinto o chão fugir e o mundo longe
e há um abuso consentido que não peço
e tu olhas-me plácida e tremente raiva e calma
e a tormenta desabrocha e sai de nós
pela porta escancarada do excesso


Pedro Barroso

quarta-feira, 10 de março de 2010

Quietude





O porquê de não mergulhar
no rio...
Sentados, na margem,
sob a sombra da árvore
só contemplando, sentados

O medo do gesto
do desconhecido, do oculto
daquilo que está para além
de isto tudo
para lá só existe
aquilo que conhecem
os que mergulham
em suas águas
a coragem
que em nós fenece.

De quem olha para a
porta
com coragem,
vencendo o medo,
a abre, mergulha
na penumbra.

Atrás de si
ela se fecha
Ocultando seus segredos
em silêncio
as águas em breu
guardam
o segredo

Para quem permanece
fica um silêncio
sentado...
definhando, morrendo
aguardando o impulso último...
impulso que nunca chega!

Uma porta
um medo sentado
e o silêncio
de uma desafiadora porta
imóvel
no ar
só se ouve
silêncio!

[ eu por mim permaneço sentado ]



em resposta ao josé luís peixoto

N:d:N:s:d:

domingo, 7 de março de 2010

O menino, as águas e um rio




Foi no Tua
que ele se entregou
às águas do rio
onde ele se rendeu
ainda um menino
seu corpo morreu

mergulhou no rio
o seu mergulho último
nas águas de um rio
entregando-se
todo se entregando
desejando
de novo o útero

Foi no Tua
seu mergulho último
de um spírito ausente
nas águas de um rio
morreu-nos aí
ficou o corpo de um menino !





n:D:n:S:d