terça-feira, 15 de abril de 2014

▲bϊsm●




 



    Vozes ácidas nasciam por entre a negrura, delineavam um cardume de ausências naquele silêncio grave, um fumo eterno escorria, de uma das muitas janelas de pó, que iluminavam o céu estrelado, o olhar novo da tenra serra irradiava a luz, de uma vivência inexistente, percorria-a com dedos firmes, cerrando as pálpebras embrutecidas, deixando-se cair na miragem que o esquecera.
   Olhava o teto seco num esgar de pedra, nas densas ruas crepusculares que erguem as margens do Inferno, fitava todas as coisas com o seu olhar demente, um sorriso plácido rasgava o rosto espinhoso, que o envolvia pelo romper da aurora, matutava remotamente sobre coisa nenhuma, evocando cânticos perenes que nasciam na neblina, gemendo sons que eram imediatamente colhidos pelo púrpura estelar, abrilhantado a pele do seu corpo astral.
   Seus dedos martirizavam-se, no poço oblíquo do jardim, olhos cansados marginalizavam-se nas simples farpas do pensar, contemplava ali o crescer da vegetação, deitado sobre o chão de veludo fitava o universo, expressões marítimas e indeléveis que assinalavam a sua falta, por entre aquelas saliências de tez opaca que o confundiam.
   Ninguém mais era, senão na falta, senão no valor que as coisas nunca tiveram, era ele mais uma tentativa falhada da existência, era ali naquela imagem de ausências, que o som monocórdio da vida o penetrara e esquecera no seu deitar, era aquele o vácuo de carne que iria morrer juntamente com todo o cosmos, toda uma alegria melancólica morrerá, com o abafar do som das artérias finas do espaço, desenrolam-se novelos de silêncio no rugoso horizonte que compõe um céu mudo.
   Movimentos imaginários atravessam-no, o alecrim fresco florescia no seu sonho, veias sulcadas eram como raízes de uma árvore sem memória, encarava a serra a partir da sua própria paralisação, fontes de água mansa corriam levemente pelos seus cabelos, submergindo a cólera plantada em torno do seu jazigo, vozes aquáticas marulhavam ao sabor do destino.
   Fregueses viçosos tornavam o seu olhar num mistério, um azul franzino cobria toda aquela tosse doentia, materializando um horizonte de cores pálidas, um cabelo ralo de avelã era recortado pelas sagas brancas do tempo, brancura reluzente das manhãs puras de Inverno, espelhadas no teu rosto monótono de feições frias.
    Baloiçava toda um crepúsculo inacabado, pelos ventres da vida, um rosto frio habitava tudo, o banco estava frio como todo o jardim, como afinal todo o Universo…

Sulcos velhos presenciava a infinita face das estrelas, estrelas riam numa demência semelhante à sua, securas brilhavam ao relento, as feridas cicatrizavam na incoerência do espaço…



cê.de.cê